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ZOEIRA DA SEMANA

Você também pode ocupar esse cantinho. Tem alguma história engraçada para contar? Então manda para cá. Se você quiser manter o anonimato, é só sinalizar, e a sua vontade será respeitada. E não se preocupe se você acha que não sabe escrever. Nós podemos recontar a sua história para você. 

 

Vamos lá? Mande a sua zoeira para rodrigorosaescritor@gmail.com. E lembre-se: ao participar, você concorda com os termos e condições de uso, e cede os direitos da sua história para que ela possa ser publicada aqui. 

 

Estou louco para ler a sua história. E, só para te inspirar, vou começar a brincadeira. Dá uma olhada aí embaixo e comenta.

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Paisagem montanhosa no Outono

PASSEIO

                                                 

   Empurrando de leve o portão, Ignácio saiu para a estradinha de terra que serpenteava ao longo do terreno.

  Um tênue sol de outono brilhava na imensidão do céu azul, puro e eterno, como nas pinturas antigas.

  Ao longe, o trigo tardio revolvia-se em ondas douradas ao sopro da manhã.

  Ciprestes saudaram-no à beira do caminho; e uma vaca de pelo castanho ergueu-se para contemplá-lo, de relance.

  Ignácio vinha distraído, na estrada deserta, olhando os zimbros que se estorciam no cimo dos áridos montes.

  Em mais uma curva, o bosque detalhou sua linha de verdes pinheiros; e uma nuvem solitária projetou sua sombra de gaze na campina.

  Ignácio, por um momento, lembrou-se então de Carolina; e o rosto jovial da menina voltou-lhe à memória.

  O rapaz procurou afastar essa imagem; e a luz clara das espigas refletiu-se em seus olhos cansados.

  Ele não tinha pressa; e, no caminho, abaixou-se para apanhar um calhau.

  Sua mente, no entanto, parecia presa ao passado, como um barco ancorado em cais distante; e, numa curva à frente, junto a um terreno onde vicejavam as azinheiras, ele voltou a pensar na menina.

  Um esquilo pulou nas sombras, assustado. E ganhou célere o alto do arvoredo, escondendo-se entre as galhas.

  Ela tinha partido, era só isso; ela tinha partido – e já não havia o que fazer.

  Ignácio apanhou outro calhau à beira da mata. E seguiu firme em seu trajeto.

  Na altura do Couto, ele viu, amarrado ao tronco de um velho castanheiro, um cavalo cigano, que, ocupado em arrancar uma touceira de mato, nem deu pela sua presença.

  Ignácio soltou um suspiro. E, num movimento ágil, agarrou mais um seixo, tão branco e redondo que parecia ter sido esculpido por mãos humanas.

  Nos pastos, ao longe, a brisa fresca atirava folhas, revolvia as urzes, despenhava as amoreiras silvestres.

  E Ignácio seguia, o coração aos saltos, o olhar saudoso, o espírito ermo e vazio.

  Na curva do brejo, ele passou sob uma cerca de paus, e tomou a trilha do riacho.

  Por fim, ele pôde ouvir as águas rumorejando nas pedras, e um hálito fresco desceu em seus pulmões.

  Deslizando pela encosta, chegou finalmente à margem do ribeiro, e andou a passos firmes em direção à pequena ponte que se arqueava sobre a corrente.

  Cruzando a passagem até a metade, ele inclinou-se então sobre a grade de madeira, e contemplou por um instante as águas que corriam rápidas, em reflexos cintilantes, por baixo do seu corpo.

  Por fim, sentando-se na guarda da ponte, ele passou uma das pernas sobre a grade, e depois a outra; e, olhando para o céu cheio de luz, atirou-se de um salto à corrente.

  E, num átimo, Ignácio não viu mais nada; e as pedras que trazia no bolso o puxaram às profundezas.

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