top of page

MANIFESTO

Vivemos em tempos conturbados. À crise cultural que explodiu em numerosos atentados pelo mundo no começo do século, seguiu-se uma crise econômica cujos efeitos não parecem se dissipar facilmente. Por último, a instabilidade social e a precariedade das relações de trabalho conduziram-nos a um cenário ainda mais crítico, que ameaça hoje os fundamentos da própria Modernidade. Não se há de negar, de fato, que, nas sociedades contemporâneas, o medo é o afeto que mais circula   - e junto com ele se difundem o ódio, a intolerância e o preconceito. Por outro lado, se a Ciência e a Tecnologia falharam em intermediar a relação do homem com o mundo, torna-se evidente que, por conta de sua própria natureza, só a Arte e capaz de levar a cabo essa tarefa. Contudo, para isso, é preciso que a produção artística possa sair do imobilismo em que se encontra e reproduzir as diferentes formas de vida das classes sociais, de modo a estabelecer entre ela verdadeiros canais de comunicação. Há que se buscar, antes de tudo, um novo espaço de ocupação, igualmente distante dos estereótipos de uma cultura descartável e do elitismo das experiências de vanguarda. 


Essa Nova Escrita - uso esse termo, na falta de outro melhor- teria fundamentalmente as seguintes características:


1. Uso amplo de todas as estratégias de humor, desde as tradicionais, como a ironia e a paródia, até as mais contemporâneas, baseadas nos sketches de internet, nas comédias adolescentes norte-americanas e nos espetáculos de stand up;


2. Estrutura baseada nas produções audiovisuais do cinema e dos seriados de TV;


3. Síntese entre os elementos da alta erudição e da cultura de massa;


4. Mudança do eixo narrativo do discurso para a ação;


5. Visão panorâmica da estrutura social, com a reprodução das formas de vida da classe média e das classes mais humildes.   


O que se pretende, aqui, não é absolutamente criar um novo estilo literário, mas apenas sinalizar estratégias de aproximação que retirem a Arte do niilismo e do fetiche do conceito e iniciem um processo de revinculação da obra à Vida e às condições materiais da sociedade. Desse modo, acreditamos, é possível que a Arte volte a falar aos homens, e que, a partir desse diálogo, novos significados deem sentido às nossas experiências concretas e possam iluminar a nossa breve jornada sobre a terra.

bottom of page